sexta-feira, 13 de novembro de 2015

As mulheres nas histórias em quadrinhos

COMO ALGUMAS HEROÍNAS DEIXARAM DE SER APENAS UM AGRADO PARA FÃS, E SE TORNARAM VERSÕES DE MULHERES REAIS E INDEPENDENTES

Inspirado por toda a polêmica desnecessária surgida nas provas do ENEM 2015 comecei a pensar na representação das mulheres nas histórias em quadrinhos, com foco apenas nas heroínas neste momento, apesar de algumas coadjuvantes roubarem a cena vez por outra.

Não havia como não iniciar falando que com poucas exceções, a maioria das grandes heroínas dos quadrinhos surgiram na onda de versões femininas dos grandes heróis, como ocorreu com a Mulher-Hulk, Mulher-Aranha, Miss Marvel, Batgirl, Aquamoça, Mary Marvel, Supergirl, entre outras.

A maioria não possuía exatamente uma personalidade própria, eram apenas copias de seus originais masculinos, em um ambiente feminino, mas as mudanças pelas quais a sociedade passou de meados do século XX até hoje, mudaram as formas de contas suas histórias.

Deram profundidade e personalidade a cada uma.

Outro aspecto 100% masculino nas heroínas seria seus uniformes. Entre o final da década de 1980 e o inicio do século XXI, as heroínas ganharam uniformes cada vez menores e mais colados ao corpo. Corpos cada vez mais voluptuosos, e poses ousadas ao extremo.


Pois na visão cada escritor ou criados era dessa forma que uma mulher se via ou queria ser?

A questão não é o tamanho do uniforme, mas a forma ou a intenção de seu uso. Vamos comparar? Observe a Mulher-Maravilha de George Péres, é o uniforme tradicional, é a Diana sendo uma mulher maravilhosa conhecendo o mundo, agora veja essa versão da MM que foi muito popular por um período.


Não entendeu? Vamos ver algumas grandes heroínas que afirmar os direitos das mulher após uma evolução na


MULHER-MARAVILHA

A amazona foi criada em dezembro de 1941, no titulo ALL STAR COMICS nº8, pelo doutor William Moulton Marston (criador do polígrafo, ou detector de mentiras), e de acordo com um comunicado a imprensa da época:

A Mulher-Maravilha foi concebida pelo Dr. Marston para criar um padrão entre as crianças e jovens de uma feminilidade forte, livre e corajosa; para combater a ideia de que as mulheres são inferiores aos homens, e para inspirar as meninas a terem autoconfiança e a se realizarem no esporte e nas ocupações e profissões monopolizadas por homens, porque a única esperança para a civilização é a maior liberdade, desenvolvimento e igualdade das mulheres em todos os campos da atividade humana.

Na revista New Yorker Magazine ainda foram publicadas por Jill Lepori as palavras do próprio doutor Marston:

Francamente, a Mulher-Maravilha é propaganda psicológica para o novo tipo de mulher que deve, creio eu, governar o mundo.

Doutor, onde quer que esteja, nem preciso dizer que eu concordo com sua ideia, e não se preocupe, não contarei que a ideia do herói criado por você ser uma mulher veio de sua esposa, e a Mulher-Maravilha poderia ter sido inspirada em uma possível amante sua. OK OK. Minhas mãos serão um tumulo.

Originalmente a Rainha Hipolita esculpiu uma criança no barro e os deuses sobraram vida nesta estatua, nascendo Diana. Em sua concepção, apesar de forte, inteligente e rápida, caso fosse acorrentada por um homem perderia todos os seus poderes.


Em suas muitas fases e reformulações, já perdeu poderes, já foi aprendiz de mestre de artes marciais, investigadora, agente secreta, mas sempre manteve a luta compra a opressão das mulheres.
As Mulheres-Maravilhas sucesso na década de 1990, pelas roupas e poses.

A atual, fase Novos 52, Mulher-Maravilha é filha de Zeus com Hipólita, menos ingênua, mas mais guerreira.
Esse uniforme foi desprezado pelos fãs. Que exigiam a volta do original.

Acredite as transformações físicas e de uniforme ainda foram poucas. Veja abaixo a honra que Mulher-Maravilha teve ao ser aceita na Sociedade da Justiça da América (primeira equipe de heróis dos quadrinhos e inspiração para a Liga) como secretária.

Sem comentários!!!



BATGIRL/ORÁCULO

Bárbara Gordon, a Batgirl é uma personagem clássica e que nos Novos 52, se tornou uma heroína jovem e antenada com as adolescentes atuais.


Porém, sou mais fã da fase anterior a reformulação. Após a graphic novel a PIADA MORTAL (voltaremos a esse assunto em breve), quando a heroína e seu pai, o comissário Gordon, são atacados em casa pelo Coringa. E o palhaço a atinge com um tiro na coluna.


Temos uma mulher lutando para se erguer mentalmente ao descobrir que não voltaria mais a andar. E passa a investir em seus talentos de hacker, coletando todo o tipo de informação, invadindo todo tipo de sistemas, para fornecer como apoio aos heróis do universo DC, como a grande cyber informante Oráculo.


Sua habilidade ganhou reconhecimento do Batman, que passou a usá-la como auxilio a suas informações, e a indicou a membro da Liga da Justiça.

Com o tempo, ela mesma organizou seu próprio grupo de combatentes do crime formado exclusivamente por mulheres, as Aves de Rapina (Birds of Prey). 



MISS MARVEL – CAROL DANVERS/ KAMALA KAI

Após sofrer um acidente e ter seu corpo transformando em um hibrido kree-humano, e inspirada pelo heroísmo do guerreiro kree Mar-Vell, o Capitão Marvel da Marvel, Carol Danvers assume um uniforme inspirado e a alcunha de Miss Marvel.

Inicialmente apenas uma das versões femininas de um herói, Carol foi ganhando destaque e reconhecimento, uma das primeiras mulheres a serem piloto da força aérea, chegou a patente de major.

Logo foi incorporada aos Vingadores, e adotou um novo uniforme, mais independente de sua inspiração original, e muito mais para agradar o publico masculino, afinal um maiô azul com uma faixa vermelha na cintura, e mais volume corporal fazem a heroína.

Assumindo o papel semelhante ao da Mulher-Maravilha na DC, a Miss Marvel ganhava cada vez mais espaço, e titulo novo de relativo sucesso.

A editora decidiu que Carol representaria a afirmação feminina da editora, passando por transformações. Assumiria seu legado Marvel, alterando sua identidade para Capitã Marvel, e assumindo um uniforme que mesclava o seu com o do Capitão. Tornando-se não apenas guardiã da Terra, mas também de todo o universo.
Agora seu uniforme novo lhe dá mais porte de ícone.

Com o titulo vago surgiria uma nova Miss Marvel, a adolescente muçulmana Kamala Khai (já falamos sobre ela anteriormente), do qual sou particularmente fã. Afinal em um mundo onde os heróis se tornam cada vez mais pouco amistosos, temos uma menina sendo menina, e descobrindo seus incríveis poderes.

Kamala ganhou seus poderes ao ser atingida pela nevoa de terrigeneo liberada pela detonação da bomba lançada por Raio Negro ao fim da saga Inumanidade.

Essa personagem em especial não só quebra barreiras e preconceitos contra a religião islâmica, mas também consegue representar uma adolescente como adolescente.



SUPERGIRL - PODEROSA/ KARA ZOR-EL ou LINDA DANVERS

A prima do Super-Homem chegou a Terra anos depois de Clark, mas biologicamente seria mais velha que o herói, ficando presa em animação suspensa por anos.

Mais uma versão feminina de herói que tentou achar seu lugar ao sol. Infelizmente, sua maior e melhor historia foi a ultima, que narrou sua morte durante a minissérie Crise nas Infinitas Terras, ao confrontar o Anti-Monitor para salvar seu primo.

Após a reformulação provocada pela Crise. O Super-Homem seria o único sobrevivente de Krypton, mas uma nova Supergirl surgiria.

A chamada Matriz viria de um universo compacto, onde foi criada a partir do corpo de uma falecida Lana Lang para tentar salvar a Terra deste universo, tomada por três criminosos da Krypton desta dimensão.
Os principais uniformes já usados por diversas versões da Supergirl


Ao fim da batalha, a heroína foi reduzida a um ser sem memória e com aparência queimada. Recuperando voltou a assumir a identidade de Supergirl, se apaixonou por Lex Luthor II (nem pergunte), foi feita de capacho e usada. Ao perceber o erro deu um fim a relação e partiu.

Em seguida, Matriz se fundiu a uma adolescente demonista chamada Linda Danvers, que fazia rituais com seu namorado, e ferida poderia ter morrido.

Uma fase de temática mística/espiritual, onde a Supergirl tentava desvendar os segredos de seu novo eu, e a ameaça que pairava sobre a cidade.

Anos depois, a DC resolveu ressuscitar o conceito de prima, e no titulo Superman/Batman, Kara Zor-el ressurge e chega a Terra.

Uma versão bem diferente da original a começar pelo uniforme, que “falava” com as adolescentes da época, sempre em poses e ângulos, para provavelmente ser um exemplo para as meninas.
A Supergirl atual - Novos 52 - novamente prima do Super.

Isso sem contar a Poderosa, a Kara Zor-el da Terra-2, que já foi da principal e agora voltou para 2, e que não usava o S, pois buscava algo que a representava.
A Kara Zor-el da Terra 2, em busca de seu simbolo.

Bem, ela ficou conhecida por essa representatividade.



A VIOLÊNCIAS DIRETA CONTRA A MULHER EM VINGADORES

Os quadrinhos também trouxeram o uso da violência contra a mulher em formas distintas, um dos mais impactantes ocorreu entre Hank Pym (o personagem de Michael Douglas, em Homem-Formiga) e Janet Van Dyne (a Vespa).

Sofrendo de distúrbios mentais de inferioridade, Pym desenvolve outra personalidade, violenta, marrenta, irônica, que se autodenomina Jaqueta Amarela (É. O vilão do filme).

Caçando e matando criminosos, forçando sua entrada nos Vingadores e seu casamento com Jan, os heróis aceitam como parte do tratamento para trazê-lo de volta a consciência. Mas em um de seus acessos, o Jaqueta humilha a esposa e a espanca.

Esse ato gerou sua expulsão dos Vingadores. E foi uma bagagem pesada que o personagem carregou ao longo de mais de vinte anos, pelo qual fez tratamentos, e aos poucos conseguiu se reaproximar da Vespa, com quem reatou relacionamento.


Os autores sempre fizeram questão de fazer Pym carregar a culpa pelas agressões a esposa, mesmo em conversas com ela. Afinal não é algo que se esqueça, até mesmo alguns vingadores da época o enquadravam em algumas discussões trazendo o assunto a tona.

No universo 1610, ou Ultimate, o Pym não teve tanta sorte, não só bateu em sua Janet, como enviou formigas para que fosse devorada viva, ao encolher para se salvar e acabar encurralada, ele ainda usa inseticida na heróina.

E depois? Leva a mulher para o hospital. 

Qual o problema? O melhor amigo dela, era simplesmente seu colega de equipe o Capitão América, que dá uma surra homérica em Pym. 


Claro que a violência não é resposta a violência. E nem toda mulher é amiga do Capitão América, mas infelizmente os números de agressões físicas e verbais se mantêm elevadas, apesar de toda evolução tecnológica parece que alguns seres humanos ainda não abandonaram a ida das pedras.

Os quadrinhos nos servem como fonte de pesquisa para mostrar como a forma de pensar da sociedade veio mudando, mas não são eles que alteram a forma de viver da sociedade, mas sim a sociedade os molda com o que consideram aceitável ou polêmico em determinada época.

Caso saiba ou presencie algum tipo de agressão contra mulher de qualquer idade disque 180, e faça a denúncia.

Afinal nas sábias palavras de Edmund Burke:

" O mal triunfa sempre...que os bons não fazem nada".

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